Links do dia (8/7)

1 – Uma análise da produção acadêmica em Economia dos EUA

2 – Por que assistimos algumas séries mais rápido do que outras? Netflix diz ter uma resposta

3 – Em tempos de Brexit, Trumps e Bolsonaros, por que eleitores andam ignorando a opinião de especialistas?

4 – Ótimo infográfico sobre fragmentação partidária no Brasil e no mundo

5 – Praticamente uma ode à amizade (e aos rivais também). Artigo sobre a importância dos peers sobre a perseverança dos indivíduos

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Links do dia (19/6)

1 – Como máquinas destroem (e criam) trabalhos em 4 gráficos

2 – O mundo profissional do pedra-papel-tesoura

3 – Um modelo de behavior para o nosso desejo de que o mundo ao nosso redor faça sentido

4 – Estamos superestimando a importância de uma boa business regulation?

5 – A ineficiência econômica dos primeiros encontros

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Contra os memes contra a meritocracia

Uma nova moda se alastra com toda força pela esquerda facebokiana. Não, não estou falando dos textões ou das notícias de site do calibre de um Brasil247. Falo sobre os memes com meritocracia como tema. Esse é um exemplo representativo:

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Essa simples imagem resume de uma só vez alguns dos erros mais irritantes e comuns da esquerda facebokiana. O primeiro deles é a prosopopéia fora de lugar. Ora,  meritocracia não é uma pessoa. Nem sequer uma mensagem unificada como um teorema, uma lei, instituição ou algo parecido. Logo, ela não pode dizer nada sobre o efeito do esforço do garotinho. Dizer “segundo a meritocracia” é tão sem sentido quanto dizer “segundo a parede” ou “segundo a multiplicação”. Essa é uma forma de falar imprecisa, e por isso inadequada, comum mesmo em discussões mais educadas. Falta na frase um sujeito que de fato seja capaz de agir e falar em sentido não-metafórico. Que tal trocar por “segundo fulano” ou “segundo os defensores da meritocracia”? Vejamos mais meme:

 

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Esse já é melhor no sentido de evitar uma prosopopéia desnecessária. Porém, comete um erro factual em relação ao grupo criticado. Ora defender a meritocracia, não significa dizer que ela existe. Significa dizer que ela é um ideal a ser alcançado. Tal distinção é fundamental e rotineiramente esquecida, mesmo em discursos sofisticados, sobre a meritocracia.  Isso é uma grave falha de reações públicas pois, ao gerar confusão ao leitor, fica parecendo que a pessoa é contra a ideia de que pessoas que trabalham mais devam receber mais. Na verdade, muitos provavelmente compartilham justamente porque se revoltam com o fato de tantos trabalharem tanto e terem tão pouco (talvez não todos, mas isso fica para depois.). Aí o amiguinho reaça não entende  e perde-se a chance de convencê-lo de algo.

Suponhamos então que você deseja compartilhar um desses memes. Já vimos que a mensagem dele não é exatamente contra a meritocracia, mas sim uma tentativa de mostrar que não a atingimos ainda. Se é assim, faça-se a pergunta, eu estou realmente trazendo alguma informação nova? A resposta é não.

Sinceramente, não conheço ninguém, em qualquer parte do espectro ideológico, que acredite que vivemos em uma meritocracia. “Mas e os liberais?”, alguém pode perguntar. Os liberais sabem que o governo pega o dinheiro da população e o distribui para os poderosos. Que mérito há na riqueza de Eike Batista? “E os conservadores?”, podem insistir. Os conservadores que conheço passam o dia reclamando da corrupção dos políticos, especialmente do PT. Um conservador que acredita em meritocracia deveria ser fã do filho do Lula, pelo seu rápido enriquecimento. Enfim, pode procurar. Você não vai encontrar quem esteja disposto a dizer algo como “na nossa sociedade, todos tem o que merecem”.

Concluindo, os numerosos tweets, memes  e textões sobre a meritocracia são apenas repetição de informação conhecida. Se ela parece agregar valor é porque sua forma confusa de se comunicar o faz ver profundidade onde há apenas um vazio.

No próximo post, defino  melhor algumas das visões mais comuns sobre o que seria uma sociedade meritocrática e apresento minhas visões sobre a sua desejabilidade. Mas já adianto uma coisa, eu sou contra.

 

 

 

 

 

 

Links do dia (25/5)

1 – As publicações mais citadas em Ciências Sociais de acordo com o Google Scholar

2 – O Google faz você se sentir mais inteligente (ênfase no sentir!)

3 – É possível ensinar com games sim. Excelente canal do YouTube com vários vídeos legais sobre tópicos interessantes utilizando games 8-bit

4 – A Economia por trás da decisão de hospedar Olimpíadas

5 – Mulheres preferem competições pequenas?

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Artigo da semana: a ciência do “bullshit”

O artigo de hoje é “On the reception and detection of pseudo-profound bullshit”. Abaixo o resumo dos autores:

Although bullshit is common in everyday life and has attracted attention from philosophers, its reception (critical or ingenuous) has not, to our knowledge, been subject to empirical investigation. Here we focus on pseudo-profound bullshit, which consists of seemingly impressive assertions that are presented as true and meaningful but are actually vacuous. We presented participants with bullshit statements consisting of buzzwords randomly organized into statements with syntactic structure but no discernible meaning (e.g., “Wholeness quiets infinite phenomena”). Across multiple studies, the propensity to judge bullshit statements as profound was associated with a variety of conceptually relevant variables (e.g., intuitive cognitive style, supernatural belief). Parallel associations were less evident among profundity judgments for more conventionally profound (e.g., “A wet person does not fear the rain”) or mundane (e.g., “Newborn babies require constant attention”) statements. These results support the idea that some people are more receptive to this type of bullshit and that detecting it is not merely a matter of indiscriminate skepticism but rather a discernment of deceptive vagueness in otherwise impressive sounding claims. Our results also suggest that a bias toward accepting statements as true may be an important component of pseudo-profound bullshit receptivity.

 

Basicamente, eles apresentam a vários grupos de pessoas frases e as pedem para avaliar a profundividade delas. Uma das partes mais interessantes do estudo é como eles medem a receptividade ao bullshit. Foram utilizadas frases criadas a partir de recombinações aleatórias das palavas do tweeter do Deepak Chopra e do New-Age Bullshit Generator. Os sites são um achado por si só e valem a visita. Vejam frases “profundas” que acabei de gerar:

  • Chopra: “Hidden meaning exists as precious positivity”
  • New-Age: “This life is nothing short of an evolving vision of enlightened choice. The goal of four-dimensional superstructures is to plant the seeds of guidance rather than dogma.”

Os participantes avaliam um conjunto de frases como essas. Se declaram que elas são profundas, são consideradas receptivas a bullshit. A partir das respostas mais vários testes para conhecer características pessoais, os autores relacionam as variáveis estudadas em diferentes contextos. Os resultados indicam que as seguintes características são comuns às pessoas mais receptivas a bullshit:

  • Estilo de raciocínio mais intuitivo
  • Dificuldade de reconhecimento de falácias
  •  Menos inteligência verbal
  • Confusão ontológica, isto é, acreditar que coisas metaforicamente verdadeiras são literalmente verdadeiras
  • Mais crenças religiosas
  • Crença em paranormalidade
  • Crença em medicina alternativa
  • Crença em conspirações

 

Reconheceu alguns lunáticos queridos? Eu também.

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Novo imposto

Não é segredo para ninguém que o governo do estado do RJ, assim como muitos outros, está quebrado. No momento parece que a principal estratégia para sair dessa é passar o problema pro governo federal, também mau as pernas, pedindo pro STF passar por cima de contratos de dívida. Como não acho que o STF esteja disposto a falir a União e fazer os moradores de estados mais responsáveis pagarem o pato, venho com um imposto novo.

Mas porque não resolvemos via corte de receita? Se você acha que existem condições políticas para cortar o 1/4 da despesa do governo necessário para reequilibras as contas, então aconselho que volte pro bar que lá é mais divertido. A quem não acha, vamos ao incrível passatempo de inventar imposto novo! O meu favorito: Imposto por Valor da Terra (IVT).

Como o nome já diz, o fato gerador desse imposto seria o valor da terra sem benfeitorias, tal como no ITR. Ao contrário do IPTU, esse imposto não incidiria no valor do que foi construído, de forma a não desestimular melhorias no imóvel. Assim, quem possuísse um terreno avaliado em 100000 pagaria por ano  x% X 100000.  Se alíquota fosse de 6%, por exemplo, o pagamento seria de 6000. Um complicador nesse caso seria decidir o que fazer com terrenos divididos entre várias pessoas, um terreno onde está construído um prédio de apartamentos, por exemplo. Minha sugestão é simplesmente dividir o valor pelos donos dos apartamentos, em parcelas proporcionais ao tamanho de cada apartamento. Agora vamos para as vantagens e desvantagens da proposta.

De todas as vantagens dessa forma de arrecadar receitas, a principal é que ela é vista como não-distorciva. Se taxamos trabalho, incentivamos as pessoas a trabalhar e produzir menos. Se taxamos lucros, desincentivamos o investimento. Se taxamos receitas de vendas, incentivamos as pessoas a tentar produzir domesticamente bens e serviços que poderiam ser produzidos mais eficientemente de outra maneira. O IVT teoricamente não teria esse problema pois, a existência da terra não depende da ação humana (tá, existem algumas exceções em especial na Holanda…). Assim, ele seria apenas uma forma de levar dinheiro de um agente A a um B sem perder parte dele no processo.

Na prática, alguma distorção vai acabar sendo gerada. Hoje, empresas as vezes compram grandes quarteirões (ou áreas ainda maiores) inteiros de forma a melhorá-los simultaneamente e capturar o ganho em valor da terra, nesse caso, fruto de seus investimentos. Acredito que isso não seja um ponto negativo tão grande, já que esse tipo de atividade não é tão comum nem desprovida de seus próprios pontos negativos.

Também há quem defenda que o imposto geraria uma “distorção positiva”. Hoje, terrenos são muitas vezes usados como reserva de valor por proprietários poucos propensos a construir ou melhorar o que tem neles. O IVT torna esse uso inviável e tende a fazer com que terrenos passem a ser possuídos por pessoas diferentes, com preferências e visões de mundo mais pró-construção. Do ponto de vista de incentivos, isso não deveria fazer diferença, mas a mudança de responsável pelo ativo pode levar a maior aproveitamento do território, limitando o número de terrenos baldios, aumentando o tamanho de construções e protegendo o equilíbrio ambiental via maior densidade.

Fora a questão da eficiência podemos listar outras vantagens e desvantagens:

 

Vantagens:

  1. Simples de coletar e difícil de sonegar se o governo mede ele mesmo o valor da terra, especialmente se o fizer a partir de forma objetiva e baseada nos preços de mercado
  2. É progressivo. Como pessoas mais pobres tendem a ter menos território, elas vão pagar menos que os mais ricos

 

Desvantagens:

  1. Possíveis erros de medição podem causar injustiças se a alíquota escolhida for muito alta (como qualquer outro imposto)
  2. Atinge desproporcionalmente os mais velhos

 

Links úteis:

 

A wikipédia dá um bom panorama geral da ideia

Defesa do IVT pela The Economist

Artigo científico: “Can the land tax help curb urban sprawl? Evidence from growth patterns in Pennsylvania”. A resposta é sim.

Bryan Caplan, um dos meus economistas favoritos, critica a ideia

Noah Smith critica a crítica

Estado do rio tem previsão de déficit de 20 bilhões esse ano

Orçamento do estado do rio é de 80 bilhões

 

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Seleção, incentivos e o caso do impeachment

Defensores do governo defendem que tirar a Dilma não ajuda a combater a corrupção, pois Temer seria tão ou mais corrupto do que ela.

Defensores do impeachment pretendem punir a presidenta pois acreditam que a expectativa de punição deve dissuadir futuros presidentes de cometer ilegalidades semelhantes (na teoria o impeachment não é por corrupção).

No mar de argumentos idiotas dos dois lados, acho que esses dois se relacionam bem com a a teoria econômica. De um lado, os anti-impeachment argumentam como se o problema do país fosse essencialmente de seleção e pudesse ser resolvido através da escolha de políticos honestos. Os pró-impeachment focam em incentivos, o projeto não seria substituir os políticos por anjos mas fazê-los crer que não vale a pena para eles violar a lei.

Eu prefiro a visão de incentivos. Mas para que ela faça sentido, não podemos parar na Dilma. Felizmente, acho que pegaremos outros. Já prendemos alguns dos principais empresários do país que estavam envolvidos na lava-jato. O Eduardo Cunha também não deve durar muito. O incentivo a ser corrupto parece estar diminuindo a olhos vistos. Bom para o Brasil!

Atualização: O STF suspendeu o Cunha.  Vamos comemorar!

Dilma e o liberalismo

Na faculdade de economia aprendemos que, dadas algumas condições, o livre mercado organiza a economia bastante bem. Também aprendemos que a falta dessas condições dá origem a uma lista grande e crescente de situações onde o governo pode intervir para melhorar a vida da população. A depender da falha de mercado, a intervenção apropriada pode ir desde um pequeno ajuste (impostos sobre emissão de poluentes) ao planejamento e controle de um determinado setor econômico  (segurança nacional).

O quanto o governo deve intervir vai depender do quanto confiamos na sua capacidade de resolver o problema ao invés de piorar tudo. Um país com instituições ruins levando a políticos corruptos e incompetentes, deve, tudo o mais constante, ter um governo menor. Nesse sentido, Dilma deu a nós uma lição de liberalismo. Sua política industrial foi desastrada, não gerou crescimento e favoreceu os mais ricos. Sua gestão das estatais as levou à beira da falência. Até o Banco Central perdeu muita credibilidade. Um país capaz de eleger alguém como ela simplesmente não pode ter um governo grande. Uma rápida olhada para os parlamentares que votaram seu impeachment e governadores de estados mostra que o problema não é exclusivo dela.

Essa crise me tornou mais liberal. Acho que muitos brasileiros sofreram efeito semelhante e torço para que isso se reflita nas próximas eleições, diminuir o Estado para níveis adequados à sua eficiência deve ser uma prioridade. Assim como aumentar sua eficiência, só que esse processo é mais longo…

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